4 Motivos Para Adorar Ilhéus
Ilhéus, localizada a 300 km ao sul da capital baiana, Salvador, é um daqueles lugares suspensos no tempo.
Digo isso não por ser uma cidade antiquada, muito pelo contrário. Ela é moderna e ativa, centro forte de comercialização do cacau nacional mas, ao mesmo tempo, guarda pequenas maravilhas do começo do século XX.
Imagens que nos remetem as antigas histórias e lendas afro-brasileiras. Culpa de um certo escritor querido que marcou para sempre nosso imaginário e é justamente ele quem encabeça nossa lista.
1) JORGE AMADO
Menino brejeiro, nascido em uma fazenda de cacau de nome Auricídia no então distrito de Ilhéus, Pirangi, em 12 de agosto de 1912. Jorge era filho do Coronel João Amado de Faria e Eulália Leal, e o fato de ser filho de coronel já explica muita coisa a seu respeito.
Várias de suas histórias foram baseadas em situações que, malandro como era desde pequenino, ouvia do próprio pai, sempre acompanhadas da ressalva “mas comigo não, isso não acontecia, isso acontecia nas terras do Coronel Fulano de Tal…” e a imaginação do menino se enchia das lendas, do batuque dos escravos, das lindas mulatas e das francesas de “vida fácil” que eram trazidas a preço de ouro para os bordéis da cidade.
Entre suas mais famosas criações, estão os clássicos ,” Dona Flor e Seus Dois Maridos” , “Tieta do Agreste”, “Capitães de Areia” ( é o meu favorito ) “Tenda dos Milagres”, “Tereza Batista Cansada de Guerra” ( este, dizem, ter sido verdadeiramente biografia de uma mulher que ele conheceu podendo ser uma das únicas histórias completamente reais de suas criações ) e o seu romance mais conhecido, editado e filmado “Gabriela – Cravo e Canela”.
Quando Jorge Amado tinha cerca de 12 anos de idade – e aqui então Ilhéus se torna absolutamente marcante em sua vida – a família passa a viver mais tempo na casa que possuíam fora da fazenda, um palacete na praça central de Ilhéus. Não consegui localizar o endereço original mas hoje o local abriga o Museu Casa de Jorge Amado e o logradouro atual ganhou seu nome, Rua Jorge Amado, número 21 – Centro.
Esta casa linda e estreita, de 4 andares, serviu de pano de fundo para seu romance mais conhecido,”Gabriela”. Da janela de seu quarto o então adolescente Jorge podia observar o cotidiano preguiçoso das cortesãs do bordel Bataclã assim como a movimentação política dos coronéis do café e cacau no bar dos italianos, de nome Vesúvio, que acabou por tornar-se no romance o bar do árabe Nacib.
Estas pessoas talvez tenham existido mas estes lugares estão ainda lá para que você os veja. Quanto a Gabriela, muitos dizem que ela existiu mesmo e era a cozinheira do Sr Nacib, outros, que ela era apenas fruto da imaginação do menino Jorge… Deixo aqui uma dica: vá a Ilhéus, fique na sacada olhando a praça e pense sobre isso. Para mim, ela era mais real que a própria casa!
Fora isso, o Museu é sensacional. Há uma sala em um dos últimos andares onde estão expostas todas as capas das primeiras edições dos livros de Jorge Amado. Nesta sala também se mostra a devoção do escritor, a fé sobre a qual ele tanto escreveu em suas obras. Estão colocadas em nichos 12 estátuas de representações dos Orixás. É algo muito bonito de se apreciar. A casa, a praça, o bar e o Bataclã ( que estava em reformas mas já esta liberado a visitação ) valem uma tarde toda de passeio. Aproveite!
2) CHOCOLATE… de verdade!
Isso mesmo! Particularmente eu adoro aquele chocolate super macio, que derrete na boca (e no bolso, na bolsa, uma beleza) cheio de frutas, coberturas e diversos glacês porém, isto nada mais é que um doce produzido com uma pequena porcentagem de cacau.
Verdadeiramente, não deveria se chamar chocolate e sim “doce de chocolate” e é produzido desta forma em várias partes do mundo. Alguns públicos, como os da Escandinávia e norte da Europa apreciam a composição com mais cacau que no Brasil – algo como 50 a 70% – já aqui, gostamos de algo como 35 % de cacau na fórmula.
Não julgo nosso paladar, adoro o chocolate como consumimos mas insisto para que você pondere sobre apreciar o verdadeiro chocolate, aquele parecido com o que os Astecas apresentaram ao conquistador espanhol Cortés: 80 a 100% cacau, e em Ilhéus isso é possível muito mais fácil e artesanalmente que em outros locais conhecidos por produzirem chocolate, como Gramado por exemplo.
É algo absurdamente bom. Forte, encorpado, com cheiro de torrado e flocado. Ele a primeira vista lembra muito mais uma rapadura do que um pedaço de chocolate – e é bastante duro como a rapadura também – mas o sabor é inacreditável.
As fábricas artesanais de Ilhéus brincam com suas misturas. Produzem chocolate com partes de rapadura, com frutas secas, moído em flocos para que seja adicionado ao leite quente ( essa experiência é incrível ) além de sabonetes e perfumadores de ambiente. Pausa para o comercial: sabonete de cacau para pele seca é algo sem precedentes. Experimente! Onde comprar? Em Ilhéus!
Só não se espante com a aparência das lojas. Muitas delas tem um “ar” de Europa ou Serra Gaúcha. Conversando com o gerente de uma das mais conhecidas, a Chocolate Caseiro Ilhéus, ele comentou que é mais atrativo visualmente unir a aparência de uma casa tipicamente européia com a ideia do chocolate, tais imagens estão ligadas em nossa mente. É o que o uso do produto ocasionou ao longo dos séculos: o cacau é originário da América Central mas o chocolate, como conhecemos, é uma receita européia.
3) AS FAZENDAS DE CACAU
Já falei um pouco sobre elas na postagem sobre Arraial d’ Ajuda e agora posso melhorar o que comentei ali. Visitar uma fazenda de cacau é um experiência que encanta qualquer pessoa, de qualquer idade.
As casas do tempo do Império já nos deslumbram pela imponência. Enormes, quartos gigantescos, varandas que percorrem toda a fachada e de onde era possível avistar as pessoas que aproximavam-se da entrada. Segundo o guia local, várias fazendas possuíam lunetas nas varandas, em tripés, que facilitavam a visão de “quem vinha lá” . Imaginem, então, a distância que havia entre o portão da fazenda e a varanda…
E as alcovas? Sensacionais! Em tempo, alcova, propriamente dita, não teria nada a ver com algum tipo de quarto em casa de meretrício. Nas casas das antigas fazendas as alcovas eram quartos sem janelas, com trancas externas nas portas, onde os Coronéis abrigavam os visitantes na maioria compradores de cacau ou café, que vinham de longe para negociar e precisavam pernoitar na casa da família. A alcova era uma forma de proteger as donzelas da casa de uma possível escapulida noturna destes visitantes porém, também segundo o guia, sempre existia uma cópia da chave que acabava parando no quarto das moças e que as empregadas conseguiam para elas. Daí o termo “alcoviteira”… São as lendas!
Depois de passear por dentro das casas e se envolver nas histórias dos coronéis e seu cotidiano – os contos sobre penicos e escarradeiras dão uma postagem a parte – é hora de ir para a plantação de cacau.
As fazendas costumam fazer este transporte de turistas em dois formatos: a cavalo para os passeios de dia todo ou em veículos 4×4 para até 12 pessoas, para os passeios de meio dia. Eu fui em veículo e isso deu um ar de safari ao passeio, gostei bastante e, puxa vida, estar no meio da plantação colhendo cacau maduro para comer a polpa é maravilhoso.
Como descrever sabores? O cacau maduro, bem alaranjado por fora lembrando quase um papaia, tem a polpa acinzentada e um sabor que mistura o de uma manga madura mas bastante cítrica, com a fruta do conde, atmóia ou graviola. Ele une um pouco do sabor dessas frutas de textura macia e branca com a manga. No final, fica no paladar algo que lembra um chocolate, quando se puxa o ar pela boca. É impressionante e delicioso!
Depois disso, você é levado para o local onde o cacau seca para ser vendido. E aí que se inicia a trajetória do cacau da fazenda até o chocolate que você gosta. A semente de cacau, levemente seca ao sol, tem um sabor mais adocicado, ainda resquício da polpa da fruta. Já depois completamente seco, você sentirá o gosto do que criará o chocolate meio amargo. Mas nada doce, lembro. O açúcar é sempre adicionado na confecção do doce.
A quantidade de cacau no doce de chocolate influencia no gosto dele. Quanto mais cacau, mais forte o chocolate será porém, o chamado “meio amargo” como conhecemos é feito com cacau totalmente seco e pouca adição de leite. O “amargo” é feito também com cacau bastante seco mas em muito maior quantidade e muito menos leite ainda.
Você deve estar pensando: ela contou tanta coisa, agora já saberei quando for… Nada disso! É possível passar dias visitando uma fazenda e sair de lá querendo aprender mais sobre o fruto. O que eu falei aqui é 1% do que aprendi lá, pode acreditar, vá e surpreenda-se!
4) E … AS PRAIAS!!
A orla de Ilhéus é algo inebriante. A água completamente verde e quente, mar mais calmo, longas faixas de areia amarela. A melhor época para visitar a região é justamente enquanto ainda é inverno no resto do Brasil. Não é que lá não seja inverno – embora em 5 minutos você esqueça o que é um casaco – mas durante os meses de maio a outubro chove um pouco menos que nas outras épocas então, há muito mais chances de você pegar uma semana inteira de sol e as praias bastante verdes e mais calmas.
Quando chove, o mar se agita e as águas ficam um pouco mais escuras e com ondas. O vento sopra constantemente e isso favorece ao kite surf, wind surf e o próprio surf em si. Ilhéus é ótima para a prática destes esportes.
Vale a pena lembrar que a parte baixa da cidade, a parte histórica – onde está o Museu casa de Jorge Amado, por exemplo – tem orla não balneável e por este motivo mais de 80% dos hotéis da cidade ficam na região das Praias do Sul, distantes do centro.
Este é um nome a gravar, Praias do Sul… Aqui começa a linda orla de Ilhéus. Praias com infra estrutura completa, outras um pouco mais nativas, mas no geral todas com serviço de banheiros e alimentação muito bem organizados para atender aos turistas.
As mais agitadas, no sentido de visitação e festas, são as praias de Olivença e Canasvieiras. Já as praias mais bucólicas são Batuba e Jairi. De todas, a que mais gostei foi a de Jairi por ser mais nativa, barraca de praia menor, a música era mais tranquila – passei parte do dia ouvindo reagge – e a comida tinha ótimos preços, mais baixos que das praias mais badaladas. Se você procura sossego esta é a minha dica, já se quer ver bastante gente, quer bastante animação, opte por Olivença e Canasvieiras, não vai se arrepender.
Ainda falando sobre as praias da região, não posso deixar de citar Itacaré, a cidade próxima a Ilhéus com algumas das praias mais bonitas do Brasil segundo o Guia 4 Rodas. Se estiver com tempo para conhecer, fica bem pertinho seguindo pela rodovia BA- 001 chamada “Costa Verde”, a 65 km de Ilhéus.
Refúgio de estrelas do Brasil e do mundo – Sting e Frejat tem casas em Itacaré – esta cidadezinha muito pequena tem algumas daquelas paisagens magníficas de catálogos de moda. As praias calmas de azul intenso são um colírio.
Não obstante, hospedar-se em Itacaré é mais caro que em Ilhéus. Aqui existem alguns resorts de altíssimo nível, que nem sempre são divulgados no Brasil como o Txai Resort. Por trás do nome indígena há a marca da rede francesa “Relais & Chateaux” lhe conferindo serviços de hospedagem e gastronomia com padrões de Tahiti, Hawaii ou Indonésia. Se seu orçamento permitir, recomendo. As piscinas tem suportes para baldes de gelo e champagne do lado de cada espreguiçadeira e os garçons são fluentes em no mínimo 2 idiomas, atendendo de luvas brancas.
Mas existem hospedagens de níveis mais simples e preços bastante acessíveis também. É um lugar fascinante e a busca pelas praias cotidianamente – as melhores ficam distantes do centro de Itacaré, demandam uma boa caminhada ou aluguel de veículo – são uma aventura a parte. Se tiver tempo, organize para hospedar-se por pelo menos dois pernoites na região, para conhecer as praias. Não irá se arrepender. Não vou me estender muito mais sobre Itacaré, prometo que faço uma postagem inteira sobre ela mais a frente, o destino merece.
E então, animado para conhecer mais este cantinho do Brasil chamado Ilhéus?
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gostei muito dessa reportagem, vai ser o terceiro ano que vou pra ilheus ja fiquei no canabrava,e no tororomba, conheci alguns lugares no centro mais nao sabia da diversidade que tem ao redor de ilheus, vou voltar denovo em setembro se puder mandar mais mais lugares pra eu conhecer agradeço
Oi Bertoni, tudo bem?
Que bom que gostou do artigo 🙂 Por mais que ele seja um pouco mais antiguinho, a região ao redor de Ilhéus só cresceu nestes últimos anos, o que deixa esse destino cada dia mais perfeito para as férias.
Para pesquisas mais extensas ou montagem de roteiros cobramos uma taxa de consultoria. Se tiver interesse em saber os valores me mande um e-mail no carla@umbrialemosturismo.com.br e te passo os valores corrigidos para montagem de roteiros nacionais.
Grande abraço, continue acompanhando nosso trabalho!