Como é realmente trabalhar dentro de um Cruzeiro?
Mudanças são complexas, doloridas, mas muitas são extremamente positivas. Neste outro post comentei sobre a possibilidade de mudar de país. Analisei as alternativas, falei sobre riscos e o que seria necessário para começar a colocar em prática essa guinada de vida.
Existe uma alternativa que nos últimos 10 anos se tornou bastante comum aos brasileiros que pensam em mudar de país: o trabalho dentro de Navios de Cruzeiro. Muitas pessoas que hoje seguem outras carreiras fora do Brasil alçaram voos maiores a partir deste tipo de emprego temporário mas, como seria realmente trabalhar dentro de um navio?
Da mesma forma que nos cursos de Comissaria de Bordo, onde os alunos são exigidos ao extremo, as provas são rígidas e a concorrência é grande, a tripulação de um navio passa por métodos similares de escolha, contratação e treinamento e ambas as profissões, muitas vezes, são vistas com mais glamour do que a realidade confere.
Nada melhor que saber de alguém que já esteve dentro de um Navio como tudo funciona
Pensando nisso, trouxe para vocês uma entrevista feita com a Fotógrafa de Arquitetura Daniela Buzzi, que trabalhou em Cruzeiros durante o ano de 2009 e trouxe inúmeras histórias dos navios, pessoas e aprendizado pessoal acumulados nestes meses intensos de trabalho. Hoje, fotógrafa de muito sucesso na região Sul do país, Dani nos conta sobre o tempo em que esteve dentro da Royal Caribbean e divide conosco suas memórias.
Além disso, a Dani estará a disposição de vocês, certo? Caso tenham alguma dúvida específica ou queiram conversar um pouco mais com ela, basta deixar seus comentários ou contato no campo destinado a eles no final desta postagem, e farei a ponte entre vocês para que ela possa auxiliá-los.
Decidi publicar a entrevista na íntegra. Além de permitir que vocês leiam cada detalhe dela, a forma como Dani conta tudo com certeza nos aproxima ainda mais do que ela viveu. Estejam preparados para uma dose grande de realidade. Essa é a função de tudo o que nos ajuda a crescer: separar o que é idealização do que é a verdade. O divisor de águas que pode fazer com que você opte ou não por esta modalidade de trabalho e carreira no exterior.
Segundo as próprias palavras da Dani “você aprende, depois de passar por uma experiência dentro de Cruzeiros, que pode trabalhar com qualquer coisa, você aprende que pode e consegue. Quem trabalhou com Cruzeiros faz qualquer coisa”
Como é trabalhar dentro de um Cruzeiro?
1) E quem é a Dani? De onde é, o que estudou e o que faz hoje, seu trabalho e paixões…
Meu nome é Daniela Buzzi, tenho 31 anos (quase 32 :P), estudei administração na faculdade e fotografia na pós-graduação. Desde pequena, sempre fui apaixonada pela fotografia, por arquitetura e pela Itália. Depois de idas e vindas, decidi criar raízes em Penha/SC e trabalhar com fotografia de arquitetura e interiores.
2) Quando e como surgiu a ideia de trabalhar com Cruzeiros? ( foi um anúncio? algum amigo informou? conhecia alguém que trabalhou com isso e te motivou? )
Observação minha: A Dani viajou para a Itália para melhorar o idioma e trabalhou lá como cuidadora de crianças ( au-pair ) por quase todo o tempo em que esteve no país, e o fato da família viajar bastante permitiu que, além das viagens que ela podia fazer aos finais de semana ainda conhecesse mais um pouquinho dos cantinhos especiais que a Itália possui e só quem é de lá sabe onde ficam. E ela ainda deixou uma dica valiosa: em seu último mês dentro da Italia, viajou com o Hospitality Club, um clube de viagens onde você se hospeda nas casas das famílias, parecido com o Airbnb porém com uma diferença crucial: É GRATUITO. Adorou e recomenda muito, ficar hospedada com famílias tornou a experiência ainda mais incrível.
3) Sobre o processo seletivo: o que pediram? sentiu dificuldade? Quanto tempo levou desde a tua inscrição até o começo das atividades?
4) E sobre o tempo em que esteve nos navios… Muita coisa não??
Lembrar do tempo onboard é lembrar de um mix inacreditável de experiências, de sensações, de emoções.
Trabalhar em navio é levar choques de cultura e realidade todos os dias, milhares de vezes por dia. É você não ter muito tempo pra pensar, e quando tem, pensar incansavelmente no “o que estou fazendo aqui?????”
A estranha sensação de querer sair no bar com os amigos pra respirar e relaxar, e encontrar absolutamente todas as mesmas pessoas de todos os dias, dos dias inteiros!
Se eu faria tudo de novo? Com certeza!!!!!!!
5) Valores: o salário e benefícios ( como as gorjetas por exemplo ) valem a pena ou vale mais a experiência deste trabalho, como um estágio para outros projetos?
No meu trabalho eu era remunerada com US$ 50 a cada 5 semanas pela Royal Caribbean, e o resto vinha das gorjetas. Peguei um momento horrível de crise, então não posso dizer que valeu realmente a pena em termos financeiros. Ganharia muito mais em outras épocas. Mas valeu a experiência. Para treinar inglês pode ser uma boa, mas você lida com sotaques tão ruins que muitas vezes acaba estragando um pouco seu inglês! heheheheh
Observação minha: Dani comentou que o salário é realmente baixo ( é o que você leu, U$ 50,00 a cada 5 semanas, uma média de U$ 10,00 por semana, que na verdade não seria nem mesmo um salário e sim um adicional para a tripulação que se revezasse trabalhando em um dos restaurantes de piscina, onde os clientes normalmente não pagavam gorjetas. Era portanto um jeito da companhia suprir a ausência de valores naquela semana.)É feito desta forma para que os tripulantes se esmerem no atendimento e então ganhem mais. Assim, ela conseguia fazer de U$ 200,00 a U$ 500,00 por semana somente em gorjetas. Pensando por este aspecto, ainda considero um emprego temporário bastante rentável.Segundo ela também, os tripulantes de Cruzeiros na costa brasileira são pré pagos em contrato, ou seja, quando o passageiro adquire o Cruzeiro já paga junto com seu pacote as taxas de gorjetas e assim não paga nada a mais dentro do navio. Isso pode ser bom e ruim ao mesmo tempo segundo ela pois, no caso de passageiros que costumavam colaborar mais do que o contrato da cia cobra hoje em dia, acabam por não acrescentar mais nada dentro do navio. Por um lado garante-se a gorjeta ( existem passageiros no exterior que não as pagam, assim o Brasil garante as gorjetas dos tripulantes cobrando antecipadamente ) mas por outro lado ela limita-se a um valor fixo e não tão alto.
6) A ideia que este trabalho te permite conhecer lugares é real ou é uma forma de “contratar” para a função?
Eu fiz a rota Los Angeles – Cabo San Lucas – Mazatlán e Puerto Vallarta durante todo o período. Podia descer uma semana sim, outra não. Conheci quase nada, porque quando descíamos queríamos comer, ou pegar uma praia. Tínhamos poucas horas para aproveitar, duas, três, e já tínhamos que voltar ao navio. Não posso dizer que realmente conheci essas cidades. Talvez trabalhando em outras funções, em outras rotas, em outras escalas sim. Mas você sempre tem pouco tempo para aproveitar de verdade.
7) Das pessoas – etnias – com as quais teve contato, de quem sente mais saudade?
Dos Turcos… eram os mais simpáticos e queridos!!!!
8) Das coisas que aprendeu dentro do navio, trouxe algo ( costume, mania ) para a tua vida pessoal? Algo que faça até hoje? E para a tua vida profissional?
Algumas coisas acho que vou carregar pro resto da vida, das mais importantes, valorizar as pequenas coisas da vida é mais forte, com certeza! Dormir com o black out aberto e ficar feliz com o sol, ou ao menos a claridade, batendo no rosto todas as manhãs é uma das coisas mais bizarras, mas que não abro mão.
Outra coisa bizarra é a quantidade exagerada de plantas que tenho em casa. Posso ter plantas, posso ter um cachorro!!!!!!
9) De que destino conhecido sente mais saudade?
Na verdade, minha rota era sempre a mesma e bem curta. Cabo San Lucas é um destino que eu voltaria milhares de outras vezes, sem dúvidas!!!!
10) Você sabe que esta foi a última temporada da Royal Caribbean no Brasil, e a Pullmantur também anunciou a retirada dos seus navios daqui. O que você sente com relação a isso? Acha que as chances dos brasileiros em trabalhar com Cruzeiros irão diminuir ou as cias ainda poderão fazer contratações aqui?
Eu acredito que continuarão com as contratações, mesmo que as diminuam.
O número sempre foi maior por causa da rotas brasileiras, porque a maioria dos hóspedes são locais e acabam necessitando de profissionais daqui. Porém, os brasileiros têm um carisma sem igual em qualquer rota, em qualquer parte do mundo. Isso faz uma diferença enorme no bom atendimento das companhias.
11) Que conselhos daria as pessoas que querem uma experiência de trabalho internacional, seja em terra ou em Cruzeiros?
12) E a Dani hoje, com que olhos enxerga os profissionais que trabalham dentro de Cruzeiros?
Existem vários perfis. Alguns (brasileiros principalmente) têm condições melhores de vida e estão em busca de uma experiência totalmente diferente.
E depois de todo este depoimento…
Choques de realidade as vezes são necessários. Ainda assim, é importante que você que está pensando em ingressar nesta carreira, buscando alcançar outros postos de trabalho, compreenda que pode ser sim um esforço necessário e extremamente gratificante ao final de tudo.
A grande maioria dos brasileiros que trabalhou com Cruzeiros nos últimos anos tem o perfil que a Daniela começou a delimitar na última pergunta que fiz a ela: são pessoas com condições um pouco melhores de vida ( melhores que a grande maioria das equipes de bordo mundiais, formadas enormemente por indianos, paquistaneses e filipinos ) e buscam esta experiência como porta de entrada para outras no exterior. E isso funciona mesmo. Não somente para o exterior mas, aqui como no exemplo da Daniela, isso trouxe ensinamentos e didática para trabalho dentro do Brasil.
Cada tipo de trabalho tem seu perfil, como ela bem analisa e concordo plenamente. O perfil necessário ao trabalho dentro de Cruzeiros é o de pessoas que não tem qualquer problema em acatar ordens, que não tem problemas com padrão de trabalho quase militarizado, que aceitam jornadas maiores – as gorjetas podem ser muito boas! – e que tem em mente que este período de trabalho é uma etapa de vida.
Algo grande em seu currículo e bem avaliado por empregadores do Brasil e fora daqui ( algumas companhias aéreas internacionais, como a Royal Air Morocco e a Emirates dão preferências a aspirantes a comissários de bordo que tenham vivência em Cruzeiros ). É uma opção, que deve com toda certeza ser muito bem pensada e comparada com outras disponíveis no momento. Como eu citei no começo, toda mudança é complexa e dolorida porém, algumas podem ser extremamente positivas para seu futuro.
Cabe então a você descobrir o que acredita ser melhor para a construção de seu histórico profissional direcionado ao exterior. Boa Sorte!
No mais, de uma olhadinha no trabalho da Daniela hoje. A fotografia foi uma paixão que o trabalho lá fora ampliou e tornou profissão. Isso também pode servir de inspiração, não é?
Veja mais sobre ela em seu site e também acesse seu portfolio aqui. Caso queira contratar seu trabalho, abaixo estão todos os contatos.
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Obrigada por estar aqui e nos falamos em breve!
Faltou comentar aqui que todas as fotos lindas são da Dani! Inclusive a aérea, feita por ela quando saltou de para quedas em Cabo San Lucas <3