Turismo e Acessibilidade: Respeito Não Tira Férias!
Preste atenção as duas imagens abaixo. Elas pertencem ao álbum “In Through The Out Door”, do Led Zeppelin, uma das maiores bandas de rock de todos os tempos porém, essa não é a questão e não foi por isso que as coloquei aqui. Observem as fotos…
Percebem que elas mostram a mesma imagem mas de dois pontos diferentes dentro do mesmo lugar? Mais ainda, percebam que a primeira cena é a visão da mulher no balcão, a segunda imagem é a visão do homem em pé ao lado da mesa. Será que somente pelo fato de serem um homem e uma mulher eles já não teriam pontos de vista diferentes? Listar tudo o que poderia ser visto de forma oposta daria um ou mais outros tantos posts. Um análise profunda sobre a ideia destas capas levaria horas de conversa porém, creio eu, que a maior expressão delas seja muito óbvia: nada, visto por duas pessoas será compreendido da mesma forma ou, melhor ainda, nada visto pela mesma pessoa mas por dois ângulos diferentes terá a mesma interpretação. Aqui chegamos então a ideia desta nova coluna no site:
Você realmente entende o que é acessibilidade?
Quem me conhece sabe que além de ter uma irmã sensacional que por um bom tempo dependeu de cadeira de rodas e ensinou muita coisa a mim e a todos a nosso redor, ainda tive – e tenho! – uma experiência bem curiosa quanto a acessibilidade. Em minha última viagem sofri um acidente relativamente grave mas quebrei apenas um ossinho no pé e levei alguns pontos na cabeça contudo, fiquei com a perna imobilizada por 6 semanas, o que transformou radicalmente as férias que tanto planejei – elas prosseguiram intensamente mas em uma cadeira de rodas – e também a minha forma de ver o mundo e as pessoas. Hoje entendo que o conceito de acessibilidade é algo muito simples e bem pouco executado.
Acessibilidade é garantir que outros possam fazer o mesmo que você pode, ou o mais próximo possível do que você possa fazer.
Entendido então o que seria a acessibilidade – e não se preocupem, vamos falar muito sobre isso, focando em viagens e na sociedade em geral, nas coisas absurdas e também em tudo de sensacional que virmos acontecer por aí – quero falar hoje, em primeiro lugar, sobre algo mais importante ainda do que entender o que é a acessibilidade. Entender o que é Respeito.
O quanto você é capaz de respeitar o outro?
Essa pergunta soou forte em minha cabeça em certos momentos desde que me “quebrei”. Vi coisas incríveis e detestáveis por parte das pessoas mas o que certamente me incomodou é como o respeito fica flexível – digamos assim – quando ele interfere no espaço de cada um, na “bolha” em que cada pessoa insiste em se colocar para fugir do ato simples de ajudar, quando a ação de ajudar demande estar perto de quem precisa de apoio. Quase como se a condição do outro fosse fatalmente contagiosa e transmitida pelo sorriso. Sim, há quem ache que sorrir para alguém em uma cadeira de rodas mata…
Coisas como ceder a vez em uma fila – afinal, de cadeira de rodas ou muletas, é complicado ficar esperando atendimento – ou simplesmente prestar atenção por onde anda e, no caso de esbarrar na pessoa com cadeiras ou muletas, desculpar-se e oferecer ajuda, são coisas tão básicas e essenciais que deveriam vir escritas em nossos caderninhos de caligrafia na infância, mas há quem ignore.
Por que eu comecei a coluna falando sobre o respeito?
Na volta de minha viagem – vou contar vários “causos” dela aqui, para que possamos conversar sobre tudo o que envolve a questão da acessibilidade – eu estava com o atendente do aeroporto de Guarulhos me auxiliando. Eu viajei sozinha e estava na cadeira de rodas, com uma mala internacional e uma mala de mão e estava muito bem atendida por ele. Um senhor muito querido e brincalhão, mesmo cansado e em final de expediente – já eram passadas as 9 da noite.
Ele me levou a fila de check in da TAM, e a comissária, me vendo de longe fez um sinal para que cortássemos as filas e fossemos até ela. O check in estava lotado, havia um grupo que chegava com malas imensas de Orlando, vinham todos juntos dos Estados Unidos e iam também todos para a mesma cidade no Brasil . Nesta hora, alguns passageiros que estavam na fila começaram a gritar, a aplaudir de forma irônica com frases como “a belezinha quer um chazinho também ou quer só furar fila? ” até o momento em que, passando por um deles, levei um tapa – isso mesmo, um tapa! – na cabeça. Felizmente não em cima de onde eu tinha pontos. Minha cabeça não doeu, minha alma machucou. Tive vontade de chorar, de raiva. Não desejo a ninguém o que senti naquele momento, nem mesmo a quem me deu aquele tapa.
Só me pergunto: por que?
O que leva uma pessoa a tratar alguém em uma cadeira de rodas desta forma? Seria ignorância? Despeito? Cansaço? Não sei… Minha irmã me disse certa vez que as pessoas mais simples são as que mais ajudam, mais se importam com quem possui necessidades especiais. Seria então o oposto o que acontecia com aquelas pessoas? Quanto mais posses mais distância do coração? Dinheiro inversamente proporcional a compaixão? Não sei, sinceramente, ainda não consegui encontrar explicação para tais ações, mas aí volto as duas imagens do disco lá no começo do artigo…
A razão para a animosidade não sei, mas mudar a forma de enxergar o outro talvez seja o começo para mudar a sua forma de ver o mundo.
Grande abraço a todos, vamos nos falando! E não esqueçam de assinar a página para receber as atualizações e também entrar em contato comigo pelo campo abaixo caso queiram falar mais sobre o assunto.
Até breve!!