Moussaká: Um Prato Grego Para Os Dias de Festa

Foi assim que acabei participando de uma celebração muito bonita em Curitiba no dia 24 de outubro, organizada pela Associação Helênica do Paraná.  O “Dia do Oxi” ou “Dia do Não”,  é uma festa em memória a data em que a Grécia impediu a marcha do exército nazista por seu território.

Era a época da Guerra Greco- Italiana e Mussolini, então ditador na Itália tentava invadir a Grécia, sem êxito. Havia sido repelido novamente para a Itália e estava prestes a perder a Albânia para os gregos então, pediu auxílio a Hitler.

Os exércitos nazistas marcharam vindos do leste, e invadiram a Iugoslávia e Macedônia para chegar a Grécia porém, não conseguiram entrar no país. Nesta data então aconteceu o “Dia do Não”, 28 de outubro de 1940. Os gregos continuaram a resistir bravamente, somente cedendo depois de muita luta e sofrimento, um ano após a primeira tentativa de invasão.

Se não estivermos atentos ao que nos cerca. Não foi preciso ir a Grécia para entender o que esta data representa para os gregos e seus descendentes. Pude participar disso tudo dentro de minha própria cidade. Por ser o Brasil um país multi racial, podemos ter contato com as origens de outros povos aqui mesmo, basta procurarmos!

Conhecendo a origem do outro, entendendo quais são suas raízes, nos tornamos mais tolerantes e mais fraternos e isso é viver em comunidade. Partilhar histórias, experiências e vivências nos aproxima e percebendo o outro nos conhecemos cada vez mais.

Trouxe consigo muita alegria, apresentação do grupo folclórico tradicional Grego e comida… Ah, a comida!! ( Lógico: onde Carla estiver estará Magali e teremos comida! )

A lembrança de uma data tão marcante para o povo grego não vem acompanhada de pesar, de forma nenhuma. Ela vem repleta de festa  e da noção de que são pessoas muito fortes e cheias de vida, que suportaram tantas coisas a tantos milhares de anos – e suportam novamente hoje em dia – e sempre conseguirão passar por cima qualquer tristeza.

Estando perto deles, compreendo que além de todo o legado histórico da civilização grega, indiscutivelmente necessário a nossa sociedade, eles tem ainda duas coisas lindas a nos ensinar: sorrir e comer bem de verdade!

Pratos que parecem tão bonitos quanto as praias de Zakynthos ou as casas brancas de Mikonos, e ainda assim são simples e saborosos como é sentar-se em frente ao mar sob o Sol. E é disso que falo aqui hoje, da comida que faz bem aos olhos, ao coração e a alma e carrega consigo a sabedoria dos povos milenares do mediterrâneo.

Sabemos através da ampla divulgação das dietas mediterrâneas que elas levam azeite de oliva, vegetais frescos e muito verdes, é rica em mel e temperos simples como louro, noz moscada, orégano e canela, frutos do mar ou carnes de carneiro ou frango. Ainda assim, quase sempre quando pensamos na dieta grega imaginamos aquele belo prato de salada regado a azeite – o que não é nada mal – porém, e quanto aos pratos quentes?

Aqueles que aquecem os dias mais frios ou que enchem os olhos dos que não são chegados as saladas? Também tem sim! Hoje trago a vocês o meu prato favorito da culinária grega, que me enche a boca de água só de lembrar e que foi preparado magistralmente no jantar da Associação Helênica do Paraná: vamos provar o Moussaká?

Este é um prato que costuma ser servido em ocasiões festivas pois é um pouco mais trabalhoso para ser preparado do que os pratos mais frugais da culinária grega. Eles também o acham um pouco mais pesado. Como sou uma comilona assumida e adoro provar pratos de várias culturas, para meu  organismo ele não é nada pesado porém, vou colocar aqui algumas variações de preparo para que vocês possam optar por deixá-lo um pouco mais leve ainda.

O Moussaká é conhecido em diversas culturas desde a região da Grécia até os Balcãs. Em cada país existe uma ou outra variação de sua preparação. Na Iugoslávia é utilizado iogurte de cabra no molho que o cobre. Na Romênia, este molho é feito apenas com o queijo de cabra.

Algumas histórias turcas trazem para si a origem do prato, dizendo que ele teria sido inventado no palácio Topkapi em Constantinopla para a refeição de um sultão e o nome Moussaká seria árabe. Em Istambul atualmente existe um prato chamado Moussaka mas que leva mais itens, lembrando muito a nossa lasanha, inclusive com intercalações de massa nas camadas.

O tradicional Moussaká portanto, reconhecido como prato nacional  ainda é o consumido na Grécia, com pequenas variações de preparo e tempero  que dão o toque de cada família, de cada ilha. Se for servido acompanhado dos vinhos gregos e ao som das músicas e histórias, podem te fazer voltar no tempo.

• 3 berinjelas grandes
• 1 cebola grande
• 400 g de carne moída de alcatra e porco misturadas ( Dica: a mistura destas duas carnes substitui bem o sabor da carne de carneiro. Se você tiver oportunidade de fazer com carne de carneiro faça, fica incrível! )
• 1 batata grande
• 1/2 copo de molho de tomate caseiro ( E outra dica:  tomate cereja fica ótimo aqui!)
• 100 g de queijo ralado
• Orégano
• Sálvia
• Sal
• Pimenta-do-reino
• Canela ( o grande segredo… já provei Moussakás sem canela e quando experimentei com ela custei a descobrir o que era aquele tempero de aroma adocicado que realçava o sabor da carne sem deixar nada agridoce. Pensei em tudo, menos em canela, até que resolvi perguntar o que era e… tudo na vida fez sentido ahaha )

Para o molho de cobertura:

• 1 colher de manteiga
• 1 colher de farinha
• 500 ml de leite
• Noz-moscada  ( ralo mais ou menos meia noz, dependendo de seu tamanho )

Importante:  Este molho é basicamente um Bechamel francês porém, já é usado a muitos séculos na culinária grega além do Moussaká. Como é bem simples, não é possível dizer que os franceses plagiaram o molho, de forma alguma. Acho que há um inconsciente coletivo acerca do que é bom na cozinha. As pessoas encontram receitas por intuição.

 

Modo de Preparo

• Corte as berinjelas em rodelas de mais ou menos 1 cm de espessura, salgue todos os lados e deixe-as repousar em uma tigela ou escorredor para soltarem o líquido amargo que contêm. Faça este repouso por aproximadamente 30 minutos.

* Dica: coloque um peso sobre elas. Uma garrafa pet, um pote cheio de água, qualquer coisa que as pressione. Fazendo este peso elas irão liberar totalmente o líquido escuro que produzem.

• Enquanto a beringela repousa, pique a cebola e refogue em fogo baixo com azeite de oliva e um pouco de sal.
• Após os 30 minutos de repouso, lave as beringelas em água corrente e as seque.
• Em seguida você irá assá-las ou fritá-las. Dica: Na receita original as beringelas são fritas em azeite de oliva – e eu gosto muito desta versão – porém, se preferir que seu prato fique mais leve, asse-as em forno bem quente, em forma untada com azeite, por aproximadamente 20 minutos ou até perceber que elas estão sequinhas – elas ficarão crocantes. Esta versão assada é um pouco mais demorada mas fica muito boa também.
• Tempere a carne moída com sal e pimenta do reino
• refogue a carne com as cebolas que já foram previamente fritas no azeite. Deixe a carne refogar lentamente em fogo médio e prepare o molho de cobertura.

Molho para cobertura

• Derreta a manteiga em uma caçarola. Acrescente a farinha aos poucos, mexendo sempre para não empelotar.
• Vá acrescentando leite aos poucos, sempre mexendo
• Comece a colocar os temperos: primeiro a noz moscada moída ( algumas pitadas dela apenas, eu uso 3 passadinhas no ralador apenas )Dica: não deixe o molho engrossar completamente pois o moussaka  irá ao forno e por isso engrossará um pouco mais ainda.

Carne refogada

A carne já deverá estar bem refogada neste momento. Acrescente a frigideira o molho de tomate e deixe ferver para engrossar um pouco e os sabores se misturarem.

A batata para o fundo da forma

Descasque a batata e corte-a em lâminas bem finas. Dica: as batatas aqui dão firmeza ao prato quando for cortado e por isso elas vão somente no fundo da forma. Por este motivo é preciso apenas uma batata de bom tamanho.

Montagem do Moussaká

Agora a parte mais linda! Vamos montar o prato para assar!

• Unte uma forma retangular ou refratária com azeite de oliva e forre com as batatas.
• Coloque o molho de carne e tomates por cima delas
• Ponha uma camada de beringelas por sobre a carne e polvilhe com sálvia, orégano e canela ( pouca canela certo? eu recomendo inclusive polvilhar a canela em uma única camada da montagem, para não comprometer o sabor dos outros temperos )

Repita a mesma sequência: carne, beringelas e temperos até acabarem.

• Em seguida coloque o molho de cobertura e polvilhe bastante queijo para gratinar. E lá vem dica: Caso queira fazer a receita original, não polvilhe queijo e sim um pouco mais de orégano e fios de azeite. Eu gosto das duas versões, e acho que o queijo parmesão dá um toque muito saboroso.
• Leve ao forno pré aquecido, em fogo alto, por cerca de 20 a 30 minutos e estará pronto!

O Moussaká é tão incrível que praticamente não pede acompanhamentos mas, se achar que falta mais alguma coisinha, monte uma salada com tomates cereja, folhas verdes e queijo branco. Combina perfeitamente e deixará tudo ainda mais leve.

Minha última dica:

Faça o moussaká,  chame seus amigos, ouça boa música, sorria. A melhor comida é a que une as pessoas e um prato grego vem bem a calhar para esta finalidade. Eles sabem como ninguém alegrar a alma!

Gostou dessa receita?

E que tal ver mais outras tantas delícias da Culinária Grega e Mediterrânea ? E melhor ainda, pratos extraídos dos contos de Esopo, um dos maiores escritores gregos?

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Não esqueça do vinho e não esqueça de mim! Se não puder me chamar me mande uma foto de seu Moussaká! Vou adorar! No mais, se este artigo te empolgou sobre visitar a Grécia, a hora é ótima, tanto para o turista que gastará menos quanto para a população, que precisa deste apoio que o dinheiro do Turismo traz.

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Grande abraço a todos! Nos falaremos em breve!!